Olinda

Março-abril 1983

UT Libraries 2008

SPHAN, próMemória – nº 24

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Em seu discurso, Amadou Mathai M’Bow disse que cada vez que uma inscrição é acrescentada à lisla do Patrimônio Mundial, pela qual a comunidade internacional reconhece o particular valor de uma maravilha arquitetônica, a UNESCO vê nisso a prova de um destino comum que une cada vez mais todas as nações e permite que todos os povos se enriqueçam com suas respectivas e mais significativas criações.
Felicitou as autoridades brasileiras e de Pernambuco “pela iniciativa que tomaram em propor esta inscrição, conferindo, assim, a um local excepcional, um destino de agora em diante universal”; e estendeu as felicitações às autoridades municipais” administradores, arquitetos, arqueólogos , técnicos, especialistas de todas as disciplinas que trabalham com competência e dedicação para a restauração e a preservação de tudo aquilo que constitui o precioso patrimônio desta cidade “Olinda — acrescentou — foi sempre como para responder a uma misteriosa vocação, uma cidade de poetas, pintores, escultores, ceramistas, uma cidade de música e dança, em um cenário natural tão suntuoso que não sabemos se é preciso descrevê-la como um conjunto arquitetônico ornamentado de jardins ou como um parque tropical decorado de monumentos”. O Diretor-Geral da UNESCO lamentou a ausência do ex-Secretário da Cultura do MEC. Aloisio Magalhães, falecido no ano passado, que “trabalhou tão arduamente para alcançar o reconhecimento do valor inestimável dos monumentos de Olinda”. Da viúva de Aloisio, Solange Magalhães, ele ganhou um álbum com 11 litografias feitas pelo ex-Secretário retratando paisagens da cidade. “Para proteger Olinda — disso mais — não basta somente realizar restaurações isoladas ou operações de prestígio. A ação deve ser integral e neste sentido o bem-estar de sua populaçâo imporia tanto quanto a harmonia do cenário que inclui o seu quadro de vida.

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RECONHECIMENTO

Em solenidade realizada na noite do dia 21 de março, no Palácio das Princesas, o Governador Roberto Magalhães condecorou o Diretor-Geral da UNESCO e o Embaixador Sergio Frazão com a Ordem do Mérito dos Guararapes, em reconhecimento ao trabalho de ambos pela elevação de Olinda à condição de Patrimônio Cultural da Humanidade. Também em reconhecimento a esse trabalho. Amadou Mathai MBow foi agraciado com o título de “Cidadão de Olinda” e com a Ordem do Mérito dos Caetés,distinção também conferida, “in memoriam”, ao ex-Secretário da Cultura do MEC, Aloisio Magalhães. Na cerimônia realizada no Palácio das Princesas, o Secretário Marcos Vinícios Vilaça, falando em nome de Pernambuco para a delegação do Governo do Estado, justificou a concessão da Ordem do Mérito dos Guararapes dizendo que ‘a cidade que é, hoje, Patrimônio Cultural da Humanidade, está sendo grata àqueles que deram tudo de si para que essa conquista fosse alcançada”. Ao agradecer a delegação e se pronunciar em nome de Pernambuco. Marcos Vilaça lembrou Aloisio Magalhães: “Compreendo que esta alta e nobilitante distinção seja feita ao Secretário da Cultura do MEC, que, do mesmo passo, é um pernambucano amante da sua terra e da sua gente, que sucedeu no cargo — sem pretensões de substituir — a outro pernambucano devotado. Aloisio Magalhães, cujo trabalho em favor de Olinda chega a ser uma epopéia de nosso civismo e do amor à tradição …”. Falando sobre o título conferido à cidade, o Secretário ressaltou que “projetada no cenário mundial entre as cidades históricas de maior significação na cultura humana, Olinda bem merecia o galardão. Os atos fundadores do Brasil subiram pelas suas encostas, escalando-as por ato de vontade. Os atos mantenedores da identidade nacional continuam a ser anunciados de suas cumeadas, onde ganharam morada definitiva”. “Sua lição é uma permanente harmonia entre a Arte e a tradição histórica, entre a paisagem clássica e a vida urbana permeada de monumentos sagrados e profanos que lhe compõem o perfil”, disse, ainda, para, em seguida, finalizar: A cidade morena de Olinda deve estar com a face bifronte neste momento, em ato de louvação a nos testemunhar um olho no passado vendo os seus amigos do Recife: um olho nos amigos mais novos e nem por isso menores, vindos do outro lado do mar, das zonas do Senegal”, referindo-se ao país de Amadou M’Bow.

Olinda uma jóia do Brasil

Nela se reúnem admiravelmente a paisagem marinha e a cidade de arte, com uma riqueza de vinte igrejas barrocas e um grande número de casas antigas pintadas em vivas cores. O que impressiona em Olinda é hoje, por um concurso feliz de circunstâncias — coisa provisória, sem dúvida, se as houver, uma intervenção imediata —, é que a paisagem continua intacta! Em Olinda, a arquitetura surge dentre os esplendores da natureza tropical. O oceano aparece no fundo do quadro, por trás das torres dos coqueiros. Entre as ruelas, a vegetação tropical. Plantadas nos logradouros, nos jardins e nos quintais, árvores frutíferas como coqueiros, mangueiras, jaqueiras, sapotizeiros, entre outras, dão ao sítio valor dominante de núcleo urbano imerso em massa verde, sob a luz tropical, tendo ao pé a praia e o oceano. O caráter próprio e diferenciado de Olinda está nessa ambiência paisagística, que a identifica ao longo de sua história.

O ciclo da cana-de-açúcar transformou Olinda num dos mais importantes centros do Brasil Colonial. Com a …

O casario colorido, característico do povoamento português colonial, e a imponência de suas igrejas brancas destacam-se contra o verde intenso da vegetação tropical e o azul turmalina do mar. A brisa que movimenta os coqueirais banhados pela intensa luminosidade tropical, faz de Olinda um lugar inesquecível.