O dinheiro é nosso

Aloisio Magalhães

Em 1965, li no Jornal do Brasil que nosso país tinha decidido comprar equipamentos para fabricar seu próprio dinheiro em vez de comprá-lo feito dos grandes produtores internacionais, americanos e ingleses. Eu me perguntei que dinheiro seria aquele.

Não seria oportuno que o dinheiro tivesse fisionomia própria, que não fosse parecido com o dinheiro de outras culturas, que procurasse uma fisionomia que refletisse um pouco da estrutura cultural da nação brasileira?

Escrevi sobre a importância do desenho do dinheiro como um forte elemento de comunicação social. Foi feito um concurso, limitado por conta da complexidade de se desenhar uma cédula, pelo problema técnico, problemas de segurança; não se podia fazer uma coisa muito ampla porque não havia condições de se espalharem esses dados de maneira aberta.

Foram convidados dez profissionais brasileiros para elaborar um projeto. O meu foi aprovado por vários motivos, entre os quais o fato do meu engajamento na questão cultural. Vi os outros trabalhos apresentados, alguns excelentes, muito bem resolvidos, mas o que elaborei, no momento, refletiu maior intensidade. Daí pra frente foi desenvolver o aprendizado da técnica e o detalhamento.

O desenho do dinheiro representa um compromisso social, uma preocupação com a responsabilidade social. Você tem acesso ao desenho do cotidiano, que circula dentro da cultura, da coletividade, e pode ajudar também, do ponto de vista técnico, no sentido e promover uma auto-suficiência no design, no que hoje somos completamente independentes.

Tudo é feito no Brasil: o papel, as tintas, as gravações, a elaboração dos offset e toda a técnica desenvolvida ao longo de dez anos. Foi possível tornar o país autônomo na produção de seu próprio dinheiro porque é necessário ter autonomia na criação de um objeto.