ALOISIO

Revista do Arquivo Público

1979

  • p. 47

Convidado pelo Ministro Eduardo Portella para essa importantíssima função, Aloisio Magalhães foi aos arquivos do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, neles encontrando o projeto inicial do órgão, elaborado pelo escritor Mário de Andrade, por solicitação do Ministro Gustavo Capanema.

20/6/1982

2015

Mauro Mota

  • p. 106

Suponho que, com Aloisio Magalhães, não perdemos somente, o que já seria muito, Aloisio Magalhães como criatura humana e componente de uma das mais importantes dinastias pernambucanas, a do Magalhães. Perdemos um sistema de ação pessoal e pública, que ele encarnava em funcionamento sem intervalo com uma força de vida e confiança de pasmar. Onde botava a mão seria feito, e bem feito, o que ele queria, e, isto ainda mais surpreendente, sem reivindicações individualistas, sempre com o olho num interesse de comunidade.

Isso desde o Ginásio do Recife, onde o conheci, ele aluno, eu já no magistério. Percebi então, e falei nisto, a Padre Felix e a Alvaro Lins, que convivíamos no colégio com um adolescente transparente, quero dizer, que, nos cadernos de aula botava um dizer que não fora dito antes, alheio em tudo ao ramerrão escolar; que ainda não era, mas entremostrava o que seria.

Depois, foi na Rua Amélia, durante o decênio de cinquenta, no Gráfico Amador, editora responsável pela apresentação, em tiragens de cem exemplares, de uma série de livros de fatura em nível de autênticas peças de arte.

Aí Aloisio, junto de Gastão de Holanda, Orlando Ferreira, J. Morais Pinho, Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna, Carlos Pena Filho, José Laurênio de Melo, Milton Persivo, Jorge Martins Filho e outros companheiros, revelava-se um às em biblioteconomia aliado aos seus talentos de pintor, à sua paisagística transfiguradora dos ares, das luzes, das cores, e dos cheiros do Recife, nem copista nem copiosa, expressa em traços antieloquentes, interpretações dele mesmo, da mesma forma presentes nos seus mares nada bravios e nos seus rios de confluências e navegações inaugurais.

Repito o que já disse uma vez sem endereço, e endereço agora a Aloisio. Ser nativo não é somente nascer numa terra: é fazer a terra nascer na gente esteja a gente onde estiver. Ao deixar Pernambuco pelo Rio e Brasília (deixar, não, porque o Recife e Olinda Aloisio não deixaria nem com a morte e, morto, aqui veio viver a sua eternidade) ao mudar-se daqui temporariamente, foi para mostrar, contudo sem querer mostrar-se, as compatibilidades que podem existir entre o artista, quando o artista, sem bizantinice, é verdadeiro, e a ação pública.

Todos os sentimentos nesse antiegocêntrico, nesse nacionalista, expressavam-se em função do povo e em contribuir para compor, na área cultural, um itinerário de governo abrangente da nossa cultura tradicionária e das novas técnicas capazes de fazê-la receptiva e circulante.

Lembre-se a Fundação Nacional Pró-Memória — Deus queira que permaneça incessante — recuperadora de valores próximos ou distantes, vinculados a tudo quanto fizemos para ser o que somos. O programa traçou-se, mais do que no papel, no chão brasileiro quero dizer, mais no cumprimento imediato das iniciativas do que no amolegamento delas. Programa extenso e intenso, indiscriminatório, com uma estratégia de mensuração indo a todos os nossos cantos históricos. Alcançando e a isso recentemente assistimos a luta para Olinda ser reconhecida monumento da humanidade, a reconquista na compostura arquitetônica original do Paço Imperial, as reformas no Museu Histórico e na Biblioteca Nacional para dar mais vez e mais voz aos livros e aos códices, como — repitase o óbvio do “guardando as proporções” — o tombamento, na Paraíba, de uma centenária fábrica de vinho de caju às vésperas da falência.

Tudo invento, e jamais invencionice, de Aloisio Magalhães, aplicado a todo o seu fazimento: a pintura,  os “cartemas”,  os desenhos impressos em cédula e moedas, os logotipos.  Nas artes e na administração, sem confundi-las, mas, em tantos casos, juntando-as no mesmo destino do êxito, o poder criativo marcava a sua forte e inquieta personalidade. Ele mesmo, Aloisio, foi uma excelente criação.