Guerra das traças

1981

Visão

Destruição

  • p. 30

Livros raros e valiosos, em meio a poeira, são corroídos pelos insetos. As autoridades parecem não dar importância ao problema.

Umidade, poeira e falta de espaço: ambiente propício para os insetos que destroem livros. A capa, trabalhada a ouro, do livro Prosopopéia, de Bento Teixeira da Silva, editado em 1601 — um dos quatro exemplares existentes no mundo —, esconde uma pequena e silenciosa tragédia nas páginas: as traças. No mesmo cenário, as prateleiras da Faculdade de Direito do Recife, a História do Brasil, de Gaspari Barleus, escrita em 1647 na Holanda, também está sendo destruída pelas traças. Os 29 volumes da coleção do Correio Braziliense (o primeiro jornal brasileiro), editado em Londres por Hipólito José da Costa, se estão deteriorando rapidamente. São apenas três exemplos; mas na biblioteca da Faculdade de Direito do do Recife, fundada há 150 anos, onde há 95 mil livros, praticamente todas as obras dos séculos XVII e XVIII estão estragadas. As funcionárias da biblioteca chegaram a inventar uma palavra para definir melhor a situação: livrocídio. “Temos de fazer alguma coisa antes que seja tarde demais”, apela a coordenadora da biblioteca Leonice Ferreira da Silva.

A voracidade de um numeroso e quase invisível exército de insetos avança livremente sobre obras históricas, teses, periódicos e originais. Para combater tudo isso, existe apenas um solitário servente, que não dá conta da poeira que se avoluma nas prateleiras.

As autoridades, aparentemente, não deram atenção às denúncias das funcionárias. Após apelar para todos os órgãos culturais e fundações preocupadas com a memória nacional, Leonice Ferreira resolveu frequentar gabinetes estaduais e federais, sem que tenha havido qualquer resposta satisfatória. E o único saldo positivo, por enquanto, foi uma rápida visita do ministro da Educação, Rubem Ludwig, à biblioteca. Ele determinou ao presidente do Patrimônio Histórico Nacional, Aloisio Magalhães, que tomasse providências. Ainda não houve tempo para saber se as ordens do ministro serão cumpridas. A coordenadora aponta a falta de pessoal para efetuar a limpeza de livros e documentos como o principal fator da crescente deterioração.