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Estou convencido de que a estrada brilhante de Ouro Preto no patrimônio mundial contribuirá para estreitar ainda mais os laços de cooperação, criados entre o Brasil e a Unesco. Não gostaria de concluir sem que me fosse dado formular votos para que o espaço reencontre cada vez mais o tempo do Brasil e que seu povo generoso encontre respostas felizes a todas as questões que o final do século XX apresenta a toda a humanidade.
O Correio do IBECC, em homenagem ao Prof. Aloisio Magalhães, que exerceu as funções de Secretário de Cultura do Ministério da Educação e Cultura, transcreve uma de suas últimas entrevistas, concedida à EBN.
Repórter: Olinda poderia se tomar uma cidade histórica internacionalmente?
Secretário:
Acreditamos que sim. Acho que o pedido que acaba de ser enviado à Unesco, em Paris, representa uma probabilidade muito alta de que, como foi feito por ocasião do tombamento de Ouro Preto, o centro histórico de Olinda venha a se constituir no segundo bem cultural brasileiro, incluído na lista dos bens da humanidade.
Repórter: Petrópolis é uma cidade que tem grande parte tombada pelo patrimônio histórico nacional. Teria sido afetado pelas chuvas algumas dessas áreas?
Secretário:
Não, felizmente a parte que é protegida não foi atingida de maneira catastrófica, como outras partes da cidade, sobretudo na periferia, nas estradas de acesso. Entretanto, ficamos atentos, mandamos técnicos nossos para examinar e sobretudo prestar a nossa solidariedade à cidade, às autoridades, no sentido de que nós poderíamos ser úteis à recuperação da cidade.
Repórter: O governo do estado e a prefeitura já pediram?
Secretário:
Não. Na verdade ainda não recebi o relatório final sobre se haveria algum dano específico na área protegida. O que tudo indica, pelo que nós sabemos da topografia da cidade, é que as áreas protegidas e nas áreas que foram atingidas, felizmente não há nenhum dano significativo na área patrimonial.
Repórter: Já foram concluídos os estudos na área das missões?
Secretário:
Aí temos vários planos de trabalho em execução. O primeiro deles é a recuperação das outras missões. E não é só a de São Miguel, que é a mais conhecida.
Em relação a São Miguel, nós tivemos um problema muito sério de consolidação da ruína. Contamos inclusive com ajuda de técnicos da Unesco, que têm experiência.
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Repórter: O Sr. acha que esse estudo poderia ser concluído durante o semestre que vem?
Secretário:
Nós liberamos inclusive o som e a luz, que estavam interrompidos, até o fim de 82, fora da área da ruína, porque na verdade esse trabalho de consolidação é muito lento, é feito de uma maneira artesanal, às vezes pedra por pedra, e então não se pode prever muito bem o tempo que vai levar para se consolidar.
Repórter: E na área do Instituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen), para 82, o que se teria para dizer?
Secretário:
Conseguimos, em relação às artes cênicas, propor, discutir, analisar e ver aprovada a criação de um Instituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen), que passa a se ocupar das artes que são de representação. Ele inclui a ópera, que é uma coisa que poderia até se discutir um pouco, em função da presença também do Instituto de Música, mas, agora, o lado de representação, o lado de desempenho e performance da ópera, para a própria comunidade no caso, as categorias é que escolheram que fosse formulado o Inacen dessa maneira, entre o circo, entre a ópera, entre a dança e entre teatros. Nós estamos no momento terminando o regulamento interno, para constituição e institucionalização da entidade. Temos recursos previstos em orçamento já para esse primeiro ano.
Repórter: O teatro volta a ter vez?
Secretário:
Ele nunca deixou de ter vez, no fundo.
Repórter: Não, com tanta ênfase assim, não.
Secretário:
Eu acho que você podia dizer que o teatro volta a ter um apoio maior do MEC, no sentido de um apoio, da responsabilidade do Estado em relação ao desempenho da representação da cultura brasileira. Na verdade, o teatro é vivíssimo, e ele tem sobrevivido de uma maneira extremamente engenhosa, consegue recursos de uma maneira muito econômica e eu acho que ele merece apoio nesse momento de uma revitalização da presença dele dentro da área do MEC.
Repórter: Todo esse apoio seria dado também à Funarte?
Secretário:
Garo, a Funarte é uma instituição admirável, talvez a mais importante que foi criada nos últimos anos, quer dizer, ao longo do processo de conscientização da cultura brasileira. Eu acho que a criação da Funarte pelo Presidente Geisel foi o gesto que deflagrou todo esse processo, que hoje nós estamos empenhados em consolidar. Depois da Funarte, veio o próMemória, com a Fundação específica para os bens patrimoniais e a Funarte, caracterizadamente para a criação do bem cultural. Quer dizer, eu acho que ela de certo modo contribuiu muito para deflagrar um processo de conscientização das instituições capazes de digerir o bem cultural.
Repórter: Não há problema para a Funarte, no Corrente ano?
Secretário:
Nenhum, não há problema.