31/10/1982
Visão – nº 44 – ano XXI
UT Libraries 2008
A primeira seria o avanço do mar, cujas águas ameaçam constantemente “engolir” a cidade. Para conter a invasão das águas seria necessário construir um cais semi-submerso. “Mais de 11 km de litoral estão sendo ameaçados”, explica o prefeito, “aguardando os necessários recursos dos governos Federal e Estadual, que devem fazer os investimentos. Os projetos que elaboramos estão engavetados há vários meses.”
A segunda calamidade olindense é o perigo de deslizamento de morros, uma ameaça constante a um acervo arquitetônico da importância do Convento de São Francisco (de 1585), da Igreja e do Convento do Carmo (de 1580) e da sacristia do do Mosteiro de São Bento (de 1554). “Sem os recursos as barreiras poderão desabar a qualquer momento, destruindo obras muito significativas.”
- p. 32
A última calamidade é o corriqueiro transbordamento do rio Beberibe. “Não temos verbas para controlar as enchentes que afetam sobretudo o varadouro da Galeota, área do Convento de Santa Teresa, construído por Fernandes Vieira em 1640 para comemorar a vitória contra os holandeses, atingindo, também, a ilha do Maruim, na faixa litorânea”, conclui o prefeito Coelho. Mas não só a natureza põe em perigo o patrimônio histórico de Olinda.
A Germano Coelho, na luta pela cidade.
SERÁ EM OUTUBRO
Para a população de Olinda a contagem regressiva começou em dezembro de 1980, quando a cidade foi elevada e reconhecida como monumento nacional — a sétima do país — através de sanção presidencial ao projeto do deputado Fernando Coelho. Entretanto, já em 1978, o prefeito Germano Coelho (PMDB) iniciava contatos para iniciar o processo de reconhecimento de Olinda, pela UNESCO, como patrimônio da humanidade, especulação imobiliária e o crescimento populacional ameaçam deformar o perfi da cidade. “A cidade do Recife vem anexando faixas territoriais de Olinda”, acusa Germano Coelho. “Uma prática que se vem repetindo há aproximadamente cinquenta anos.
Desde 1937, sucessivas administrações recifenses conseguiram desmembrar Olinda, sempre ficando com os nacos de terra mais mais lucrativos, mais rentáveis do ponto de vista comercial e industrial.” Nesse ano outro olindense, o embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti, era nomeado delegado do Brasil na UNESCO. Em seguida, o prefeito Germano Coelho, ao conferir-lhe a Comenda dos Marins dos Caeiés, chamou-o de “embaixador de Olinda” junto à UNESCO. A partir de então aumentaram as visitas de representantes da UNESCO a Olinda. Em outubro de 1981, o embaixador Holanda Cavalcanti propôs a inclusão do Brasil no Comitê de Patrimônio Mundial, formado por 21 membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que, reunido em Sydney, Austrália, recebeu um amplo e detalhado relatório sobre a cidade pernambucana e a formalização da candidatura de Olinda ao título. Em maio deste ano, o Comitê irá reunir-se na Tailândia e analisará o dossiê que será entregue pelo Itamaraty. Em outubro, em Paris, será votado o título de “patrimônio natural e cultural da humanidade”. O representante do Brasil e vice-presidente do Comitê dos 21, professor Aloisio Magalhães, revela que as chances de obtenção do título “são de 100%’. Atualmente, Olinda é a segunda cidade brasileira em densidade demográfica: 10 mil habitantes por km:
— a primeira é São João de Meriti, no Estado do Rio de Janeiro — e está crescendo num ritmo acelerado e sem planejamento.
Séculos de história
“Oh linda situação para se fundar huma villa”, teria dito, sobre um morro, o primeiro donatário de Pernambuco, o fundador de Olinda, Duarte Coelho, em 1535. Daí o seu nome: Olinda. Ao relatar a história de Olinda, Germano Coelho reconhece que “os mineiros foram muito mais inteligentes que os pernambucanos”, e cita o caso de Ouro Preto, onde a mística da preservação do patrimônio foi muito cedo implantada, o que resultou na concessão do título da UNESCO para o município de Minas Gerais. “As coisas em Pernambuco sempre foram esquecidas. Possuímos em Olinda o maior acervo quinhentista do pais”, conta Germano Coelho.” Temos uma fascinante arquitetura oficial e religiosa.
- p. 105
Desde o dia 14, a cidade pernambucana de Olinda é “patrimônio cultural da humanidade” por decisão do Comitê de Patrimônio da UNESCO. O pedido formulado pelo Brasil, que mereceu menção honrosa pela qualidade das razões arguidas, havia sido entregue no ano passado pelo falecido secretário de Cultura do MEC, Aloisio Magalhães. Desde 1972 a UNESCO preocupava-se com os estragos causados à cidade pela ação do mar, quando enviou dois técnicos para estudar medidas de recuperação, transformadas mais tarde em sugestões ao Governo brasileiro. Em 1979 veio ao Brasil uma nova missão e, em abril de 1981, o próprio secretário da UNESCO, Amadou M’Bow, para …