1969
UVª Library 2010
Visão
Vol. 35, edição 11
- p. 53
… de 8 mil cruzeiros novos e quatro de 500 cruzeiros novos, teve 4.200 concorrentes inscritos, com mais de 7 mil trabalhos apresentados). Em terceiro, porque nenhuma oposição poderá acusar as direções de empresas estatais de protecionismo ou parcialidade em benefício de determinado profissional, pagando o que, aos olhos dos leigos, parece soma exorbitante. Os artistas sempre reclamam contra alguns pontos inscritos no regulamento de vários concursos. Acham prejudicial o concurso aberto a todos, sem levar em conta o caráter profissional e altamente especializado da criação de marcas, onde centenas de amadores, sem a menor chance de êxito, apenas tumultuam os trabalhos de seleção sobrecarregando o júri. Consideram ainda falha a composição de determinados júris e injustificável a determinação de um único prêmio. E, finalmente, um absurdo o patrocinador reservar-se o direito de não atribuir prêmios caso julgue insuficiente o resultado do certame, uma vez que são muitas as compensações por ele obtidas. Levando-se em conta o preço do conjunto dos trabalhos, mesmo cotado muito baixo, atingiria sempre a casa de centenas de milhares de cruzeiros. Sob este ângulo, chega-se à conclusão” de que quem patrocina os concursos são os artistas. As entidades promotoras apenas os disciplinam e recolhem, em troca, grandes dividendos. Caso não se sinta satisfeito com o resultado, é justo que o patrocinador pague o prêmio, reservando-se o direito de não utilizar os trabalhos vencedores.
Como foi o caso da TV Globo, que em 1964 pagou a Orlando Luiz, do Rio, o prêmio de 500 cruzeiros novos, mas não usou a marca.
Para corrigir tais distorções, surgiram os chamados “concursos fechados”, em que os patrocinadores convidam alguns artistas ou empresas especializadas, mediante pagamento. A Companhia Siderúrgica Nacional acaba de promover um assim. Escolheu cinco concorrentes, pagando 2 mil cruzeiros novos a cada um para custear suas buscas e estudos e fixou mais um prêmio de 5 mil cruzeiros novos para a marca melhor. O Instituto Brasileiro do Café, depois de promover concurso público em que não concedeu prêmio, alegando insuficiência dos trabalhos apresentados, resolveu instituir em segundo turno um “concurso fechado”, convidando cinco artistas nacionais e quinze estrangeiros. Feliz da vida, Ronald Lins declarou a Visão que sua marca vencedora no recente concurso da Companhia do Metropolitano do Rio vale muito mais que os 5 mil cruzeiros novos recebidos e que, nos Estados Unidos, o pagamento por trabalhos idênticos começa na casa dos 20 mil dólares (mais de 80 mil cruzeiros novos).
Quem faz as marcas
Durante muito tempo as marcas brasileiras foram feitas exclusivamente por desenhistas publicitários. O alto nível da concorrência e o desenvolvimento das artes visuais aos poucos foram obrigando à especialização de certos artistas, que se vêm organizando para a programação visual. Eles são designados pela palavra inglesa designer ou pela francesa graphiste que, aos poucos, principalmente a primeira, se vem impondo sobre a expressão “artista gráfico”. Aloisio Magalhães, um dos pioneiros da reformulação das marcas no Brasil, vencedor de vários concursos (IV Centenário do Rio, Bienal de São Paulo, cédula do cruzeiro novo, atualmente em fase de impressão na Inglaterra, Light, etc.), proprietário de estúdio de programação visual e professor da Escola Superior de Desenho Industrial do Rio, depois de justificar ser muito difícil o bom resultado da utilização de uma marca, mostrando que seu melhor rendimento é sempre obtido no planejamento de uma completa programação visual, afirma que cobra de 12 a 20 mil cruzeiros novos por esses trabalhos. Em casos mais complexos, o preço sobe. Já fez uma programação que chegou a 50 mil cruzeiros novos.
O artista, que não seria capaz de comprar um bilhete de loteria por ‘500 cruzeiros novos, é impelido, por complexos mecanismos, a “jogar” num concurso o fruto de seu trabalho e o de sua equipe. Trabalho que ele valoriza em 50 mil cruzeiros novos, para disputar um prêmio de 5 mil cruzeiros novos.
Muitas marcas continuam sendo feitas pelas agências de publicidade e, em alguns casos, fornecidas aos clientes quase de graça, num esforço de relações públicas, já que uma agência não vive da venda de marcas e sim das comissões sobre inserções de anúncios.