80 anos de nascimento de Aloisio

João de Souza Leite

2007

Aloisio Magalhães (1927-1982) foi um paradoxo. E, assim, cultivou com muita atenção suas próprias contradições. Acreditava, e certamente era verdade, ser dali que extraía sua vitalidade e persistência.
Foi paradoxal ao participar da fundação da Escola Superior de Desenho Industrial, em 1962, posicionando-se contrariamente à transposição parcial do modelo da Hochschule für Gestaltung de Ulm – sendo voto vencido – ainda que viesse a reconhecer, tempos depois, a importância do diálogo mantido entre aquela tradição de ordem racional com a aparente desordem e malemolência brasileira, bem encarnada em seu ser pernambucano.
Paradoxal foi ao se valer da sistematização dos programas de identidade do suíço Karl Gertsner e do americano Paul Rand na condução de seus projetos de símbolos e sinais empresariais e, simultaneamente, utilizar-se da geometria não como partido de construção formal, mas como instrumento viabilizador de seu gesto natural e mimético. Grande parte de seus sinais revelam o traço livre do desenho tornado símbolo através do instrumento regulador do desenho geométrico e da construção modular.
Paradoxal o foi também na medida em que defendia em seus projetos de design uma perenidade de linguagem que ultrapassasse qualquer condição efêmera e se perpetuasse no tempo, enquanto em paralelo reconhecia o valor da condição temporal das manifestações culturais. Do mesmo modo o foi, ao defender essa espécie de universalidade dos símbolos, tão sustentada pela lógica internacionalista, paralelamente à defesa, intransigente, de que “o universal não é o igual”
Aloisio Magalhães fez do design um instrumento de pensamento – dizia, “sou um projetivo” – no qual a atenção maior era dada ao objeto do seu projeto, não ao design. Poderia, talvez, hoje parafrasear Oscar Niemeyer, embora não fosse esse o arquiteto intelectual da sua interlocução, este o foi Lúcio Costa, Doutor Lúcio, com sua visão abrangente: não é o design que importa, é a vida que importa.
Seu caminho em direção ao trato da cultura brasileira, após 16, 17 anos de dedicação ao design, assim o demonstra. Interessava a Aloisio os fazeres populares e seus múltiplos significados para o povo brasileiro, interessava-lhe as expressões gráficas de todas as camadas da população, a relação direta entre meio-ambiente, vida comunitária e expressão cultural, a relação entre o fato da cultura e a possibilidade educativa ali encerrada. Seu interesse era múltiplo.
Faleceu cedo, muito cedo – 55 anos incompletos – apontando, por diversos caminhos, ações que visavam harmonizar as forças produtivas deste país. Este, o seu legado, o olhar projetivo, investigativo, sobre o que verdadeiramente importa: o que fazer diante de tanta riqueza e tanta miséria?