Cartemas: a fotografia como suporte de criação

Cartemas: a fotografia como suporte de criação

Galeria de Fotografia da Funarte

5/11 a 2/12/1982

UT Libraries 2008

Solange Magalhães

Aloisio sentia fascinação e felicidade em relação a qualquer manifestação coletiva. Esta fascinação foi determinante para que ele optasse entre a sua arte individual e um trabalho que pudesse ser amplamente utilizado pela coletividade.

Mª Edméa Saldanha de Arruda Falcão

A exposição de cartemas despertará mais uma vez a admiração pelo lado criativo de Aloisio. Nessas obras, de um modo simples, o artista põe as questões referentes ao todo e às partes na sua passagem pela percepção visual. Para construí-las, um objeto banal e quotidiano, o cartão-postal, é requisitado e posto em situação de rigor e estranhamento.

Rodovia Castelo Branco – São Paulo

No cartema, Aloisio faz a inserção da fotografia em sua vasta produção visual. Não como fotógrafo, mas como um construtor de imagens em busca de novos espaços em novas armagens. Daí a pertinência dessa exposição no Núcleo de Fotografia, no momento em que busca ampliar o raio de suas preocupações. O texto de Antonio Houaiss, ao mesmo tempo em que evidencia a importância e a qualidade da obra de Aloisio, reitera a preocupação daquele setor da Funarte em promover uma reflexão profunda sobre a imagem fotográfica em geral.

Esta é também a oportunidade para revelar o entusiasmo de Aloisio Magalhães pelo trabalho do Núcleo de Fotografia. Repetidamente anteviu a hipótese de sua transformação em Instituto Nacional da Fotografia. Por várias vezes aplaudiu o projeto de Preservação da Fotografia iniciado por aquele Núcleo, estimulando sua ação nacional.

Apoiou também o debate e a reflexão sobre a fotografia para que se desse relevo ao aspecto expressivo da linguagem e não apenas à sua função documental.

Dessa homenagem à Cultura Brasileira e a Aloisio Magalhães, realizada pelo Núcleo de Fotografia, participamos, todos nós da Funarte, com alegria e saudade.

Antonio Houaiss

25/9/1982

O imaginário e a criatividade de Aloisio demandam que sua vida seja mapeada, a fim de que se possa, acaso, acompanhar-lhe o itinerário, com risco de perdas, pois com frequência andou ele por duas ou mais vias de ação ou pensação, vias às vezes paralelas, mas também às vezes divergentes tão múltiplo foi.

Uma das faces mais envolventes de sua personalidade foi a do bibliólogo – esse saber ligado ao livro como objeto e vetor de cultura, que o fazia ser, por isso mesmo, bibliófilo, amigo do livro, e bibliósofo, sábio em coisas de livro. Seu apego ao livro – livro sob quaisquer aspectos, inclusive o visual e o iconográfico – manifesta-se cedo, já nos seus tempos recifenses, quando se cria 0 Gráfico Amador, oficina experimental de artes gráficas, fundada em 1954, por ele e Gastão de Holanda (que, romancista e poeta, nunca se liberou do vírus bibliâmano) e José Laurenio de Meio e Orlando da Costa Ferreira (depois, dos mais notáveis bibliólogos brasileiros), com a finalidade de publicar, em tiragens artesanais limitadas, textos literários breves, sobretudo de poesia. Era o mesmo ano em que, no Rio de Janeiro, um catalão Manolo Segalá, criava a sua Philobiblion, de intenções e realizações muito gêmeas – e sem se saberem.

O Gráfico Amador contou com o estímulo de Le Courrier Graphique, de Paris, e de Curwen Press, de Londres, e com a colaboração de diversos intelectuais e artistas pernambucanos; e de outras pessoas interessadas em artes visuais – era quando Aloisio se fazia conhecer como pintor. 0 Gráfico Amador se apresentou em exposição na Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, em 1959. E encerrou suas atividades em 1961, com vinte títulos publicados, entre os quais, em primeira edição, o poema Ciclo, de Carlos Drummond de Andrade.

Seu patrimônio foi doado à Escola de Belas Artes do Recife.

Mas o fato é que Aloisio multiplicou a ação fecunda de sua bibliologia seu conhecimento profundo do livro, e de sua bibliofilia, sua amizade ao livro.

Aloisio Magalhães (em Aloisio a fotografia não aparece como produto final, mas como suporte para um processo criativo que subverte sua função inicial e alarga suas fronteiras).