DPHAN

1981

Cultura

Patrimônio

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Cumpriu-se o primeiro requisito, graças ao devotamento do mentor sem igual e dos sucessores à altura de continuar-lhe atuação e estilo, no fazer cotidiano. Preencheu a outra exigência a qualidade sem par dos colaboradores convocados: Lúcio Costa, Renato Soeiro, Oscar Niemeyer, Alcides da Rocha Miranda, Paulo Barreto e José de Souza Reis, na arquitetura; Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, na literatura; Luiz Jardim, na ilustração; Joaquim Cardoso, na engenharia. Outros, no Rio e nos estados, vieram juntar-se ao grupo. Entre eles o saudoso escritor e arquiteto Sílvio de Vasconcelos, a quem se deve síntese de realizações, posteriormente muito enriquecida: “Resultado dessa extraordinária atuação de Rodrigo é o valor do acervo tradicional brasileiro preservado, e a correção absoluta dos trabalhos empreendidos pela equipe. 

Todos os elementos mantidos intatos em sua autenticidade, os planos primitivos recuperados, a história refeita, as autorias estabelecidas e tudo executado dentro de um rigor que hoje desperta encômios da técnica e crítica universais. Duas dezenas de museus foram criados em todo o território nacional, a maioria deles montada pessoalmente por Rodrigo, na obtenção do imóvel, na aquisição e no arranjo das peças. Paralelamente, três dezenas de publicações, revistas e livros foram entregues à cultura nacional, organizados com um discernimento sem reparos, na feição e no teor, constituindo hoje coleção ímpar na bibliografia brasileira”. Ao que relata  Carlos Drummond de Andrade (Estado de Minas Gerais, 29 de junho de 1967), “as coisas veneráveis da criação artística e da história brasileira — sítios, edificações, alfaias — jaziam ao abandono, vítimas da cobiça, do saque, da indiferença e da ignorância. Foi então que Gustavo Capanema, um ministro fora da bitola vulgar, chamou Mário de Andrade e pediu-lhe um anteprojeto de órgão federal que pusesse termo a essa tristeza. Do estudo inicial de Mário resultou, após meditação e debate, a lei que criou o DPHAN quando este já funcionava em caráter experimental, sob a direção de Rodrigo desde a primeira hora.

A elaboração continuada e modesta de uma teoria da defesa dos bens históricos e artísticos, fundada tanto na experiência estrangeira quanto na observação de particularidades locais, coroou afinal os esforços. Mas a aplicação dessa doutrina, mesmo com paciência e tato, quanta dor de cabeça não vem custanto!” Que o diga o atual responsável pelo Serviço, Prof. Aloisio Magalhães. Em perspectiva bem mais favorável, com órgãos estaduais e até municipais congêneres, agindo em sintonia com a Subsecretaria Federal, retomou os princípios originários, a fim de lhes dar aplicação, na conjuntura sócio-econômica de hoje.

Apesar das consabidas dificuldades atuais, dota-se essa secretaria de verbas, quanto possível suficientes.

As preciosidades do passado e da arte, guardadas nas cidades históricas, tornam-se elementos educativos para o povo das ruas, desde a escola e pela vida afora, através de participação pessoal de todos os dias, além de atraírem visitantes interessados pelo turismo cultural, principalmente. Importa que o povo se venha a sentir destinatário e beneficiário dos melhoramentos realizados, com a preservação, restauração, reconstrução e salvamento. Cumpre-lhe orgulhar-se dos bens do passado, pela sua expressão definidora; não considerá-los, exclusivamente, algo merecedor de admiração e apreço das
pessoas de fora. Os habitantes da cidade hão de ser atingidos pela significação dos monumentos.

Francisco de Assis Barbosa