O pensamento de Aloisio Magalhães

Enrique J. Saravia

Rio 1982

UT Libraries 2008

Perspectivas sobre a identidade da cultura brasileira

  • p. 12

A partir da criação do Centro Nacional de Referência Cultural – CNRC, órgão vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio, sediado no Distrito Federal junto à Universidade de Brasília, aparece, no traçado das políticas oficiais sobre cultura, o pensamento do artista pernambucano Aloisio Magalhães que haveria de transformar as concepções que vigoravam com relação à ação governamental no âmbito da cultura. Sem descuidar a proteção do patrimônio arquitetônico e artístico, nem as manifestações da cultura erudita, parte-se para um novo conceito que privilegia a defesa e fomento das tradições e da arte populares. Mesmo a preservação do patrimônio histórico e artístico ganha novas metodologias e concepções, que pretendem envolver a  comunidade nessa tarefa. A obra que é realizada a partir de 1979 tem na figura de Aloisio Magalhães a principal fonte de inspiração e o seu mais dedicado executor. A rápida revalorização dos aspectos culturais vai acompanhada de uma transformação profunda dos mecanismos e instituições de politica e ação cultural.

Aloisio morreu em 1982, quando ocupava a Secretaria de Assuntos Culturais do MEC, acumulando os cargos de Secretário do SPHAN e de Presidente da Fundação PróMemória, mas as suas concepções continuam vigentes na atual administração de instituições e projetos culturais do governo federal.

Assim, por exemplo, a importância do passado para a compreensão do presente e para a visão do futuro: “Essa contradição (história pessoal mais ligada à vanguarda do que a preservação do passado) é curiosa: um sujeito com a minha formação e postura sentir necessidade de um recuo para poder entender melhor a formulação projetiva.

  • p. 16

Observa-se, pois, como se percorreu um longo caminho para que a cultura elitista, europeizada, desse lugar a um conceito de cultura abrangente de todas as manifestações da vida social brasileira e para que esse conceito de cultura se tornasse operativo, orientando as ações estatais no âmbito da cultura. As contribuições de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda significaram a formulação de ideias que já se encontravam, de forma embrionária, nas manifestações culturais da década de 20 e em pensadores mais antigos. Aconteceram, posteriormente, longas e ricas discussões que foram perfilando o novo pensamento e permitiram sua integração às políticas governamentais no campo da cultura. Daí a coerência das ideias de Aloisio Magalhães, pensador que recebeu o recado daquelas épocas precursoras, o enriqueceu e aperfeiçoou e o transmitiu a vida quotidiana das instituições. A visão da cultura que reconhece essa longa e polêmica gênese, revela-se
fecunda para a construção de uma política cultural baseada nas realidades brasileiras. No entanto, a questão não está fechada. Ela se insere na antiga discussão entre a cultura universal, a cultura latina e as culturas nacionais, entre a Kultur extra-nacional e a
Bildung germânica.

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