José Laurenio de Melo
Recife 1958
Design de Aloisio Magalhães.
Era preciso que tivesse vivido até agora?
Era preciso que tivesse andado sob céus coléricos?
Era preciso que tivesse ouvido vozes de desespero
e visto o terror da fome, da sede, do medo, da morte?
Era preciso que estivesse presente ao desabar da angústia?
Era preciso contemplar a ruína que silenciosamente se
infiltra nos seres e nas coisas?
Era mesmo preciso?
Era preciso que o tempo, com o seu martelo, me esfarelace
os ossos, me pulverizasse os sentidos?
Era preciso que o mundo montasse nos meus ombros
e eu não pudesse erguer um canto testemunhal,
uma lápide,
uma inscrição?