Aventura da Linha

Sérgio Milliet

1956

UT Libraries 2008

UCLA Library 2010

Individual, no MAM/SP

Diário Crítico

  • p. 19

Enquanto isso Recife, com toda a sua luz propícia, dá apenas dois ou três artistas de valor (Lula, Aloisio Magalhães, Cicero Dias — este em Paris há vinte anos). A presença de luz na pintura não decorre a meu ver da presença de luz na natureza. Ela resulta de experiências puramente estéticas, nasce da vontade arbitrária do pintor, chega com uma teoria e desaparece com outra. Há épocas em que ela se volta toda a atenção do artista e então “a pintura é luz”. E há outros momentos em que a pintura deixa de ser luz e passa a definir-se pelo ritmo, o plano, o equilíbrio de massas. “Pintura é acorde de valores”, dirão outros, segundo a moda que impere. É evidente que sem luz não há cor (os cubistas da primeira fase não queriam cor e no entanto faziam pintura), mas não é a …

  • p. 211

S. Paulo – Dezembro, 12

A grande verdade estética defendida pela crítica moderna é a de que a pintura, qualquer que seja sua tendência, vale pelos seus elementos próprios, pelas suas soluções pictóricas e não pelo assunto, o tema a anedota. Essa descoberta da crítica moderna levaria forçosamente o artista ao abandono do elemento figurativo e à tentativa de se exprimir em uma linguagem isenta de compromissos. Contudo muitos pintores, e não dos menores, não ousaram ou não quiseram ir até o fim de uma experiência sem dúvida sedutora mas suscetível de isolá-los do público. Seu raciocínio, que me parece certo, estabelece que se o objeto pouco importa não se faz necessário eliminá-lo. Cabe tão somente que ele entre na composição não como representação realista e sim como representação formal. Uma tal solução se comporta a vantagem de não desnortear inteiramente o espectador desprevenido, impede entretanto se concretize em toda a sua pureza a linguagem pictórica. Ou, pelo menos, exige do artista maior força de abstração, por estranho que pareça, pois ao reproduzir um objeto prende-se le (ou corre o risco de prender-se) a minúcia, capazes de prejudicar a composição tanto quanto o ritmo, a melodia gráfica, o equilíbrio dos valores. Daí a sensação de não totalmente realizada que nos dá a obra hesitante entre o abstracionismo e o figurativismo. Não é porém o que eu sinto diante dos quadros que Aloisio Magalhães expõe no Museu de Arte Moderna. O pintor hesita sem dúvida em abandonar o objeto mas não se decide tampouco a dar-lhe um sentido figurativo. E enveredando pelo melhor caminho outorga a suas casas, suas palmeiras, seus morros e seus mares uma função puramente formal.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s